terça-feira, 10 de novembro de 2009

Relação de trabalho hoje

Niels Akerstrom, professor da Copenhagen Business School compara a atual situação do empregado de uma organização à do cônjuge num casamento contemporâneo ou de um casal vivendo junto. Em ambos os casos, um estado de emergência (um estado que exige a mobilização de todos os recursos, tanto racionais quanto emocionais) tende a ser a norma, não a exceção. Em ambos os casos, a pessoa "está sempre em dúvida sobre o quanto é amada ou não ... Anseia-se por confirmação e reconhecimento da mesma forma que ocorre no casamento ... [A] questão de ser ou não parte de alguma coisa orienta o comportamento do empregado como individuo." "O código do amor", acredita Akerstrom, orienta a estratégia do "novo tipo" de organização. E assim não há um contrato de trabalho por escrito (tal como não há um acordo verbal de coabitação entre os amantes) que seja estabelecido para sempre, "para o bem ou para o mal" e "até que a morte nos separe". Os parceiros são mantidos perpetuamente in statu nascendi, incertos quanto ao futuro, precisando constantemente provar de modo cada vez mais convincente que "ganharam" e "merecem" a simpatia e lealdade do chefe ou parceiro. "Ser amado" nunca é "suficientemente" obtido e confirmado, continua sendo eternamente condicional - a condição sendo um suprimento constante de evidências sempre renovadas da capacidade de realizar, ter sucesso, estar sempre "um passo a frente dos atuais ou potenciais competidores. O trabalho nunca acaba, tal como as estipulações de amor e reconhecimento nunca são totais e incondicionais. Não há tempo para deitar sobre os louros: estes, como se sabe, murcham e definham com o tempo, os êxitos tendem a ser esquecidos um instante depois de terem sido obtidos, a vida numa empresa é uma infinita sucessão de emergências... É uma vida excitante e exaustiva: excitante para os aventureiros, exaustiva para os fracos de espírito.

Trecho do livro A Arte da Vida do polonês Zygmunt Bauman.

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