sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Magias “evangélicas”

Padre Joãozinho, scj on novembro 12th, 2010

Vi com meus próprios olhos.Um desses pastores da TV gritava aos céus dizendo a Deus: “Eu determino que o senhor derrame a graça… o senhor é obrigado a ser fiel… não pode deixar de me atender sem deixar de ser Deus… eu determino… agora!!!” Seria cômico se não fosse trágico. Pensei que seria apenas um mau momento de um pregador despreparado que se empolgou demais e acabou ultrapassando as medidas do bom senso. Mas outro dia um outro pastor repetiu o mesmo discurso. Então percebi que estamos diante de uma nova proposta religiosa que definitivamente trocou a religião pela magia. É o começo do neo-paganismo pós-moderno.

Religião e magia são coisas completamente diferentes. Na religião a Palavra de Deus toca a humanidade e eleva, re-liga, reúne, cura, salva, liberta. Um Deus livre cria uma humanidade livre também. Esse maravilhoso mistério permite que o amor crie laços de solidariedade que combatem o mistério da iniquidade presente na história. A verdadeira religião é propagadora da paz e não se deixa instrumentalizar por nenhuma forma de fundamentalismo que mata com a bomba ou com o avião nas torres. O homem religioso sorri e vive de modo descomplicado e feliz. Religião verdadeira melhora a qualidade da vida, apesar de que não existe religião sem cruz. Quem segue Jesus e assume seus compromissos e ama o irmão, ou seja, dá a vida.

A magia por sua vez inverte estes valores. Não é Deus quem diz a primeira palavra. Tecnicamente magia significa uma palavra humana que manipula o agir “dos deuses”. Você já viu aquelas histórias de abracadabra… de poção mágica. Não se trata daqueles truques com que os chamados “mágicos” divertem as crianças nas festas de aniversário. Magia é transformar Deus em mera criatura a serviço dos caprichos humanos. O mago toma o lugar de Deus. Pode ser com sua bola de cristal, adivinhando o futuro, ou com suas poções capazes de curar tudo… O cristianismo teve um longo embate histórico com a magia que dominava o mundo pré-cristão. Bruxas e duendes pareciam definitivamente presos aos contos de fada, ou às revistas em quadrinho. A cultura celta parecia superada. O fenômeno Harry Potter mostrou que não é bem assim. O mundo continua fascinado pela magia. É, na verdade, a grande tentação apresentada na primeira página da Bíblia: o homem quer ser Deus.

O pastor ingenuamente caiu no engodo de transformar seu sermão em uma fórmula mágica. Sua “determinação” para que Deus atendesse seu pedido soa como uma palavra que pretende obrigar Deus a curar. Neste caso Deus vira uma criatura a serviço do deus-pastor. É isto que chamo de “magia evangélica”, ou seria melhor dizer, “mania evangélica”? Mas os católicos não estão isentos deste tipo de mania midiática. Este tipo de procedimento acaba se tornando moda. Será que quando cantamos “preciso de uma bênção, não vou desistir, eu não vou sair daqui, enquanto o Senhor não me tocar…” não estamos próximos da fórmula mágica de quem pretende determinar o agir de Deus? Jesus disse que devemos pedir sempre e até com insistência. Mas se pedirmos pedras Deus nos dará pães. Nem sempre sabemos como nem o que pedir. Por isso, vamos respeitar a liberdade de Deus, e crer que ele nos ama e nos dará o que é bom!

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