Cotardo Calligaris - Folha de SP 18/11/2010
Quando eu era criança ou adolescente, pensava que a felicidade só chegaria quando eu fosse adulto, ou seja, autônomo, respeitado e reconhecido pelos outros como dono exclusivo do meu nariz.
Contrariando essa minha previsão, alguns adultos me diziam que eu precisava aproveitar bastante minha infância ou adolescência para ser feliz, pois, uma vez chegado à idade adulta, eu constataria que a vida era feita de obrigações, renúncias, decepções e duro labor. Por sorte, meus pais nunca disseram nada disso; eles deixaram a tarefa de articular essas inanidades a amigos, parentes ou pedagogos desavisados; graças a esse silêncio dos meus pais, pude decretar o seguinte: os adultos que afirmavam que a infância era o único tempo feliz da vida deviam ser, fundamentalmente, hipócritas; com isso, evitei uma depressão profunda pois, uma vez que a infância e a adolescência, que eu estava vivendo, não eram paraíso algum (nunca são), qual esperança me sobraria se eu acreditasse que a vida adulta seria fundamentalmente uma decepção?
Cheguei à conclusão de que, ao longo da vida, nossa ideia da felicidade muda: quando a gente é criança ou adolescente, a felicidade é algo que será possível no futuro, na idade adulta; quando a gente é adulto, a felicidade é algo que já se foi: a lembrança idealizada (e falsa) da infância e da adolescência como épocas felizes. Em suma, a felicidade é uma quimera que seria sempre própria de uma outra época da vida -que ainda não chegou ou que já passou.
No filme de Arnaldo Jabor, "A Suprema Felicidade", que está em cartaz atualmente, o avô (extraordinário Marco Nanini) confia ao neto que a felicidade não existe e acrescenta que, na vida, é possível, no máximo, ser alegre. Claro, concordo com o avô do filme. E há mais: para aproveitar a vida, o que importa é a alegria, muito mais do que a felicidade. Então, o que é a alegria?
Ser alegre não significa necessariamente ser brincalhão. Nada contra ter a piada pronta, mas a alegria é muito mais do que isso: ser alegre é gostar de viver mesmo quando as coisas não dão certo ou quando a vida nos castiga. É possível, aliás, ser alegre até na tristeza ou no luto, da mesma forma que, uma vez que somos obrigados a sentar à mesa diante de pratos que não são nossos preferidos ou dos quais não gostamos, é melhor saboreá-los do que tragá-los com pressa e sem mastigar. Melhor, digo, porque a riqueza da experiência compensa seu caráter eventualmente penoso. Essa alegria, de longe preferível à felicidade, é reconhecível sobretudo no exercício da memória, quando olhamos para trás e narramos nossa vida para quem quiser ouvir ou para nós mesmos. Alguém perguntará: é reconhecível como?
Pois é, para quem consegue ser alegre, a lembrança do passado sempre tem um encanto que justifica a vida. Tento explicar melhor. Para que nossa vida se justifique, não é preciso narrar o passado de forma que ele dê sentido à existência. Não é preciso que cada evento da vida prepare o seguinte. Tampouco é preciso que o desfecho final seja sublime (descobri a penicilina, solucionei o problema do Oriente Médio, mereci o Paraíso). Para justificar a vida, bastam as experiências (agradáveis ou não) que a vida nos proporciona, à condição que a gente se autorize a vivê-las plenamente.
Ora, nossa alegria encanta o mundo, justamente, porque ela enxerga e nos permite sentir o que há de extraordinário na vida de cada dia, como ela é. É óbvio que não consegui explicar o que são a alegria e o encanto da vida. Talvez eles possam apenas ser mostrados: procure-os em "Amarcord" (1973), de Federico Fellini, em "Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas" (2003), de Tim Burton ou no filme de Jabor. "A Suprema Felicidade" me comoveu por isto, por ter a sabedoria terna de quem vive com alegria e, portanto, no encantamento.
Segundo Max Weber (1864-1920), a racionalidade do mundo industrial teria acabado com o encanto do mundo. Ultimamente, bruxos, vampiros, lobisomens, deuses e espíritos andam por aí (e pelas telas de cinema); aparentemente, eles nos ajudam a reencantar o mundo. Ótimo, mas, para reencantar o mundo, não precisamos de intervenções sobrenaturais. Para reencantar o mundo, é suficiente descobrir que o verdadeiro encanto da vida é a vida mesmo.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Por que Deus se fez carne
Comparamos Deus a um rei que desejasse conquistar o amor de uma mulher do povo. Se se aproximasse dessa mulher com o seu poder real, ela se assustaria e seria incapaz de lhe oferecer o tipo de amor espontâneo que surge entre iguais. Poderia também ser atraída pela riqueza e poder do rei, ou simplesmente temer recusá-lo por ele ser rei. Foi por isso que o rei se aproximou da mulher plebéia com a aparência de um plebeu: só assim seria capaz de inspirar-lhe um amor sincero e só então poderia saber se esse amor por ele era realmente genuíno.
Foi isso o que Deus fez quando nasceu no mundo encarnado em Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Procurou o nosso amor sem nos esmagar com a majestade da visão beatífica (que não está ao nosso alcance nesse mundo, apenas no mundo que há por vir), mas pela condescendência em relacionar-se conosco no nosso nível, assumindo a natureza humana e tomando carne humana.
Pensamento do filósofo Soren Kierkegaard.
Foi isso o que Deus fez quando nasceu no mundo encarnado em Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Procurou o nosso amor sem nos esmagar com a majestade da visão beatífica (que não está ao nosso alcance nesse mundo, apenas no mundo que há por vir), mas pela condescendência em relacionar-se conosco no nosso nível, assumindo a natureza humana e tomando carne humana.
Pensamento do filósofo Soren Kierkegaard.
Progredir em Deus
Em nossa vida acontecem fatos carregados de sentido que reclamam nossa atenção. Certamente se alguém não se põe a investigar, a ver o que Deus nos quis dizer, vive mais tranqüilo, não se questiona, não tem problemas. Mas não progride, movendo-se num horizonte estreito, mesquinho, sem dimensões, e se priva do que lhe oferece sua capacidade de progredir.
Na vida temos de seguir uma estrela. Um ideal. Um projeto de vida. Um modelo de santidade. Esta é a estrela que brilha em nós em nosso céu azul. E temos de segui-la apesar de todos os sacrifícios que ela impõe.
Jesus nos espera no final.
Ariel Álvares Valdés
Na vida temos de seguir uma estrela. Um ideal. Um projeto de vida. Um modelo de santidade. Esta é a estrela que brilha em nós em nosso céu azul. E temos de segui-la apesar de todos os sacrifícios que ela impõe.
Jesus nos espera no final.
Ariel Álvares Valdés
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Magias “evangélicas”
Padre Joãozinho, scj on novembro 12th, 2010
Vi com meus próprios olhos.Um desses pastores da TV gritava aos céus dizendo a Deus: “Eu determino que o senhor derrame a graça… o senhor é obrigado a ser fiel… não pode deixar de me atender sem deixar de ser Deus… eu determino… agora!!!” Seria cômico se não fosse trágico. Pensei que seria apenas um mau momento de um pregador despreparado que se empolgou demais e acabou ultrapassando as medidas do bom senso. Mas outro dia um outro pastor repetiu o mesmo discurso. Então percebi que estamos diante de uma nova proposta religiosa que definitivamente trocou a religião pela magia. É o começo do neo-paganismo pós-moderno.
Religião e magia são coisas completamente diferentes. Na religião a Palavra de Deus toca a humanidade e eleva, re-liga, reúne, cura, salva, liberta. Um Deus livre cria uma humanidade livre também. Esse maravilhoso mistério permite que o amor crie laços de solidariedade que combatem o mistério da iniquidade presente na história. A verdadeira religião é propagadora da paz e não se deixa instrumentalizar por nenhuma forma de fundamentalismo que mata com a bomba ou com o avião nas torres. O homem religioso sorri e vive de modo descomplicado e feliz. Religião verdadeira melhora a qualidade da vida, apesar de que não existe religião sem cruz. Quem segue Jesus e assume seus compromissos e ama o irmão, ou seja, dá a vida.
A magia por sua vez inverte estes valores. Não é Deus quem diz a primeira palavra. Tecnicamente magia significa uma palavra humana que manipula o agir “dos deuses”. Você já viu aquelas histórias de abracadabra… de poção mágica. Não se trata daqueles truques com que os chamados “mágicos” divertem as crianças nas festas de aniversário. Magia é transformar Deus em mera criatura a serviço dos caprichos humanos. O mago toma o lugar de Deus. Pode ser com sua bola de cristal, adivinhando o futuro, ou com suas poções capazes de curar tudo… O cristianismo teve um longo embate histórico com a magia que dominava o mundo pré-cristão. Bruxas e duendes pareciam definitivamente presos aos contos de fada, ou às revistas em quadrinho. A cultura celta parecia superada. O fenômeno Harry Potter mostrou que não é bem assim. O mundo continua fascinado pela magia. É, na verdade, a grande tentação apresentada na primeira página da Bíblia: o homem quer ser Deus.
O pastor ingenuamente caiu no engodo de transformar seu sermão em uma fórmula mágica. Sua “determinação” para que Deus atendesse seu pedido soa como uma palavra que pretende obrigar Deus a curar. Neste caso Deus vira uma criatura a serviço do deus-pastor. É isto que chamo de “magia evangélica”, ou seria melhor dizer, “mania evangélica”? Mas os católicos não estão isentos deste tipo de mania midiática. Este tipo de procedimento acaba se tornando moda. Será que quando cantamos “preciso de uma bênção, não vou desistir, eu não vou sair daqui, enquanto o Senhor não me tocar…” não estamos próximos da fórmula mágica de quem pretende determinar o agir de Deus? Jesus disse que devemos pedir sempre e até com insistência. Mas se pedirmos pedras Deus nos dará pães. Nem sempre sabemos como nem o que pedir. Por isso, vamos respeitar a liberdade de Deus, e crer que ele nos ama e nos dará o que é bom!
Vi com meus próprios olhos.Um desses pastores da TV gritava aos céus dizendo a Deus: “Eu determino que o senhor derrame a graça… o senhor é obrigado a ser fiel… não pode deixar de me atender sem deixar de ser Deus… eu determino… agora!!!” Seria cômico se não fosse trágico. Pensei que seria apenas um mau momento de um pregador despreparado que se empolgou demais e acabou ultrapassando as medidas do bom senso. Mas outro dia um outro pastor repetiu o mesmo discurso. Então percebi que estamos diante de uma nova proposta religiosa que definitivamente trocou a religião pela magia. É o começo do neo-paganismo pós-moderno.
Religião e magia são coisas completamente diferentes. Na religião a Palavra de Deus toca a humanidade e eleva, re-liga, reúne, cura, salva, liberta. Um Deus livre cria uma humanidade livre também. Esse maravilhoso mistério permite que o amor crie laços de solidariedade que combatem o mistério da iniquidade presente na história. A verdadeira religião é propagadora da paz e não se deixa instrumentalizar por nenhuma forma de fundamentalismo que mata com a bomba ou com o avião nas torres. O homem religioso sorri e vive de modo descomplicado e feliz. Religião verdadeira melhora a qualidade da vida, apesar de que não existe religião sem cruz. Quem segue Jesus e assume seus compromissos e ama o irmão, ou seja, dá a vida.
A magia por sua vez inverte estes valores. Não é Deus quem diz a primeira palavra. Tecnicamente magia significa uma palavra humana que manipula o agir “dos deuses”. Você já viu aquelas histórias de abracadabra… de poção mágica. Não se trata daqueles truques com que os chamados “mágicos” divertem as crianças nas festas de aniversário. Magia é transformar Deus em mera criatura a serviço dos caprichos humanos. O mago toma o lugar de Deus. Pode ser com sua bola de cristal, adivinhando o futuro, ou com suas poções capazes de curar tudo… O cristianismo teve um longo embate histórico com a magia que dominava o mundo pré-cristão. Bruxas e duendes pareciam definitivamente presos aos contos de fada, ou às revistas em quadrinho. A cultura celta parecia superada. O fenômeno Harry Potter mostrou que não é bem assim. O mundo continua fascinado pela magia. É, na verdade, a grande tentação apresentada na primeira página da Bíblia: o homem quer ser Deus.
O pastor ingenuamente caiu no engodo de transformar seu sermão em uma fórmula mágica. Sua “determinação” para que Deus atendesse seu pedido soa como uma palavra que pretende obrigar Deus a curar. Neste caso Deus vira uma criatura a serviço do deus-pastor. É isto que chamo de “magia evangélica”, ou seria melhor dizer, “mania evangélica”? Mas os católicos não estão isentos deste tipo de mania midiática. Este tipo de procedimento acaba se tornando moda. Será que quando cantamos “preciso de uma bênção, não vou desistir, eu não vou sair daqui, enquanto o Senhor não me tocar…” não estamos próximos da fórmula mágica de quem pretende determinar o agir de Deus? Jesus disse que devemos pedir sempre e até com insistência. Mas se pedirmos pedras Deus nos dará pães. Nem sempre sabemos como nem o que pedir. Por isso, vamos respeitar a liberdade de Deus, e crer que ele nos ama e nos dará o que é bom!
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Fé madura
É fé madura do cristão nasce da esperança, cresce na obediência à palavra de Jesus e se manifesta na gratidão.
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